quinta-feira, 27 de agosto de 2009

A formula da Paz


A. C BHAKTIVEDANTA SWAMI PRABHUPADA
Fundador-Acarya da Sociedade Internacional da Consciência de Krishna



conversas
Exclusivas com:
A.C. BHAKTIVEDANTA SWAMI PRABHUPADA, JOHN LENNON & GEORGE HARRISON


PREFÁCIL


Sempre em busca da paz, a humanidade até os dias de hoje ainda não a encontrou de forma definitiva. Para mostrar uma maneira de encontrá-la, este livro analisa o comportamento dos jovens, alguns inquisitivos, outros rebeldes, que, na verdade, dedicaram muito de sua vida à procura da paz. Na década de sessenta, era no mudialmente famoso grupo musical The Beatles que a juventude depositava toda a sua esperança. Dois integrantes deste quarteto, a saber, John Lennon e George Harrison, buscaram em Srila Prabhupada, fundador-acarya da Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna, ensinamentos que lhes mostrassem o caminho da paz. Durante suas preleções, Srila Prabhupada ressaltou a importância de se cantar o maha-mantra Hare Krishna. Este mantra, também conhecido como o Grande Cântico da Liberação, é o veículo que nos liga a Deus, ou Krishna, e faz-nos, assim, adquirir Suas qualidades. A pessoa que está sempre em contato com Krishna é, automaticamente, pacífica. Reconhecendo que Deus é o proprietário supremo, o amigo supremo, benquerente de todas as entidades vivas, bem como o beneficiário último de todos os sacrifícios e austeridades, ela se livra de todos os anseios materiais e situa-se na plataforma de verdadeira paz. Encontramos no último capítulo deste livro o registro de como o maha-mantra Hare Krishna salvou muitos jovens hippies da ruína e do colapso ao lhes dar um propósito para suas vidas, ensinando-lhes como purificar-se através da rendição a uma vida progressiva dedicada ao serviço a Krishna.
Em uma retrospectiva podemos observar como o maha-mantra ficou mundialmente conhecido, ensejando, assim, que todos caminhassem em busca da paz.
Aos 31 de maio de 1969, quando o movimento de protesto contra a guerra do Vietnam alcançava o clímax, seis devotos juntaram-se a John Lennon e Yoko Ono no quarto do hotel de Montreal para tocar instrumentos e cantar em “Give Peace a Chance”, a famosa gravação de John e Yoko. Esta canção, na qual se ouve o mantra, e o compacto simples, “O Mantra Hare Krishna”, produzido em setembro daquele mesmo ano pelo Beatle George Harrison, no qual houve a participação dos devotos, introduziram milhões de pessoas ao mantra. Mesmo o musical Hair, que ficou em cartaz durante muito tempo, incluía exuberantes coros do mantra Hare Krishna.
Na agora histórica maciça demonstração antiguerra em Washington, D.C., aos 15 de novembro de 1969, os devotos de todos os Estados Unidos e do Canadá cantaram o mantra Hare Krishna ao longo do dia e distribuíram “A Formula da Paz”, um folheto cujo conteúdo, estando em plena harmonia com as escrituras védicas, baseia-se nos ensinamentos de Srila Prabhupada. “A Fórmula da Paz”, propondo uma solução espiritual ao problema da guerra, foi distribuído em massa durante muitos meses e influenciou milhares de vidas.
Em 1970, quando a canção “My Sweet Lord”, de George Harrison – com sua bela lírica reiterativa de Hare Krishna e Hare Rãma – estava em primeiro lugar nas paradas de sucesso internacionais, devotos vestidos de dhotis e devotas de saris, cantando o maha-mantra Hare Krishna ao acompanhamento de instrumentos musicais, eram agora uma visão familiar em quase todas as cidades principais do mundo inteiro. Devido ao profundo amor de Srila Prabhupada pelo Senhor Krishna e por seu próprio mestre espiritual, devido à sua pujante determinação e à sua sincera compaixão, “Hare Krishna” tornou-se uma expressão familiar.
Portanto, a fim de que alcancemos paz verdadeira e perene. Devemos nos encaixar aos desejos do Supremo. É nesta fase que, com a mente limpa e tranqüila, vivemos em perfeita harmonia tanto com nós mesmos quanto com todos os seres vivos, pois veremos a todos com a mesma visão.
Os Editores


INTRODUÇÃO

CANTANDO HARE KRISHNA


Trazido para o Ocidente em 1965 por Sua Divina Graça A. C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada, “Hare Krishna” tornou-se rapidamente uma expressão familiar. Em 1979, o Dr. A. L. Basham, a maior autoridade mundial em história e religião indianas, escreveu sobre o Movimento Hare Krishna: “Ele surgiu do nada e em menos de vinte anos tornou-se conhecido em todo o Ocidente. Este, a meu ver, é um sinal dos tempos e um fato importante na história do mundo ocidental.”
Mas, que significa exatamente a expressão “Hare Krishna”? Neste pequeno ensaio gravado no LP A Consciência de Krishna, o primeiro contato dos Beatles George Harrison e John Lennon com o canto, Srila Prabhupada explica o significado do mantra Hare Krishna.

A vibração transcendental produzida ao catarmos Harê Krishna, Harê Krishna, Krishna Krishna, Harê Harê/ Harê Rãma, Harê Rãma, Rãma Rãma, Harê Harê é o método sublime para revivermos nossa consciência de Krishna. Como almas espirituais individuais, todos nós somos originalmente entidades conscientes de Krishna, mas, devido ao contato com a matéria desde tempos imemoriais, agora nossa consciência está poluída pela atmosfera material. A atmosfera material, dentro da qual estamos vivendo agora, é chamada maya, ou ilusão. Maya significa “aquilo que não é.” E que é esta ilusão? A ilusão consiste em que todos nós estamos tentando dominar a natureza material, quando, na realidade, estamos sob as garras de suas rigorosas leis. Um ser vivo tentar artificialmente imitar o patrão todo-poderoso é o que se chama de ilusão. Dentro deste conceito poluído da vida, estamos todos tentando explorar os recursos da natureza material, mas, na realidade, estamos nos envolvendo cada vez mais em suas complexidades. Portanto, embora estejamos ocupados em árdua luta para conquistar a natureza, ficamos cada vez mais dependentes dela. Esta luta ilusória contra a natureza material pode ser parada imediatamente pelo restabelecimento de nossa eterna consciência de Krishna.
Harê Krishna, Harê Krishna, Krishna Krishna, Harê Harê é o processo transcendental para reviver esta consciência pura e original. Cantando esta vibração transcendental, podemos eliminar todos os receios que há dentro do nosso coração. O princípio básico de todos esses receios é a consciência falsa de que eu sou o senhor de tudo o que observo.
A consciência de Krishna não é algo artificialmente imposto à mente; esta consciência é a energia original da entidade viva. Ao ouvirmos a vibração transcendental, esta consciência é revivida. E este é o processo que as autoridades recomendam para esta era. Também, pela experiência prática, podemos perceber que, ao cantarmos esse maha-mantra, ou o Grande Canto para a liberação, sentiremos imediatamente êxtase transcendental, proveniente do estado espiritual. E quem está no plano da verdadeira compreensão espiritual – superando os estágios dos sentidos, da mente e da inteligência – situa-se no plano transcendental. Este cantar de Harê Krishna, Harê Krishna, Krishna Krishna, Harê Harê/ Harê Rãma, Harê Rãma, Rãma Rãma, Harê Harê provem diretamente da plataforma espiritual, e assim esta vibração sonora supera todos os outros níveis de consciência – o nível sensorial, o nível mental e o nível intelectual. Não há necessidade, portanto, de se entender o idioma do mantra, nem há necessidade de especulação mental, nem de ajustes intelectuais para se cantar este maha-mantra. Ele flui automaticamente da plataforma espiritual e, como tal, qualquer pessoa pode participar do canto sem nenhuma qualificação anterior, e dançar em êxtase. Evidentemente, em uma fase mais avançada, é de se esperar que não se cometam ofensas com base na compreensão espiritual.
Talvez, a princípio não se registre a presença de todos os êxtases transcendentais, que são em número de oito: (1) ficar parado como que mudo, (2) transpiração, (3) arrepiar dos pelos do corpo, (4) transformação na voz, (5) tremor, (6) enfraquecimento do corpo, (7) choro em êxtase, (8) êxtase. Mas, não há dúvida de que, ao cantar por algum tempo, a pessoa eleva-se imediatamente à plataforma espiritual, e o primeiro sintoma é demonstrado no desejo de dançar enquanto se canta o mantra. Temos visto isso na prática. Mesmo uma criança pode participar neste canto e dança. É claro que para quem está excessivamente envolvido com a vida material demora um pouco mais para chegar à maneira ideal, mas, mesmo um homem materialmente absorto eleva-se à plataforma espiritual mui rapidamente. Quando o devoto puro do Senhor canta o mantra com amor, ele tem grande eficácia sobre os ouvintes, e, sendo assim, este cantar deve ser ouvido dos lábios de um devoto puro do Senhor, para que se possam alcançar os efeitos imediatos. Na medida do possível, deve-se evitar o canto dos lábios dos não devotos. O leite tocado pelos lábios de uma serpente tem efeitos venenosos.
A palavra Hara é a forma de se dirigir à energia do Senhor, e as palavras Krishna e Rãma são formas de se dirigir ao próprio Senhor. Tanto Krishna quanto Rãma significam o “prazer supremo”, e Hara é a suprema energia de prazer do Senhor, que muda para Hare no vocativo. A suprema energia de prazer do Senhor ajuda-nos a alcançar o Senhor.
A energia material, chamada maya, também é uma das múltiplas energias do Senhor. E nós, as entidades vivas, também somos energia, a energia marginal do Senhor. As entidades vivas são descritas como superiores à energia material. Quando a energia superior está em contato com a energia inferior, dá-se uma situação incompatível; mas, quando a energia marginal superior está em contato com a energia superior, chamada Hara, a entidade viva se estabelece em sua condição normal e feliz.


CAPÍTULO UM

A FÓRMULA DA PAZ

...John and Yoko, Timmy Leary, Rosemary, Tommy Smothers, Bobby Dylan, Tommy Cooper, Derek Taylor, Norman Mailer, Allen Ginsberg, Hare Krishna , Hare Krishna. All we are saying is Give Peace a Chance. (trecho da canção “Give Peace a Chance”, gravada em 1969).

Quando John e Yoko gravaram “Give Peace a Chance” em seu quarto no Hotel Queen Elizabeth em Montreal, no dia 31 de maio de 1969, vários devotos Hare Krishna estavam lá e cantaram com eles. Eles tinham se hospedado com os Lennons por vários dias, conversando sobre o amor, paz e auto-realização. John disse a Vibhavati dasi: “Queremos a consciência de Krishna. Queremos a paz, a mesma fórmula da qual fala o seu mestre espiritual.”
Escrita durante os protestos antiguerra de fins de 1966, e publicada como um folheto, “A Fórmula da Paz” de Srila Prabhupada, uma abordagem inteiramente nova à questão antiguerra, muito influenciou as vidas de milhares de americanos.

O grande erro da civilização moderna é que ela usurpa a propriedade dos outros como se esta lhe pertencesse, criando, desse modo, uma desnecessária perturbação das leis da natureza. Estas leis são muito fortes. Nenhuma entidade viva pode violá-las. Somente aquele que é consciente de Krishna pode facilmente superar a rigidez das leis da natureza e desta maneira ser feliz e pacífico neste mundo.
Assim como o Estado é protegido pelo departamento da lei e da ordem, da mesma forma o Estado do Universo, do qual esta Terra não passa de insignificante fragmento, é protegido pelas leis da natureza. Esta natureza material é uma das diferentes potências de Deus, que é o proprietário último de tudo que existe. A terra é, portanto, propriedade de Deus, mas nós, entidades vivas, especialmente os ditos seres humanos civilizados, estamos afirmando falsamente que a propriedade de Deus é nossa, baseados tanto numa concepção individual quanto numa concepção coletiva. Se vocês quiserem a paz, terão que tirar essa concepção falsa de sua mente e do mundo. Esta falsa reivindicação de propriedade por parte da raça humana na Terra é parcial ou totalmente a causa de todas as perturbações da paz na terra.
Os homens tolos e que se fazem passar por civilizados, por terem se tornado ateístas, estão reivindicando direitos de propriedade sobre a propriedade de Deus. Vocês não podem ser felizes e ter paz em uma sociedade ateísta. No Bhagavad-gita, o Senhor Krishna diz que Ele é o verdadeiro desfrutador de todas as atividades das entidades vivas, que Ele é o Senhor Supremo de todos os universos e que Ele é o amigo e benquerente de todos os seres. Quando as pessoas do mundo entenderem que esta é a fórmula para se alcançar a paz, aí então prevalecerá a paz.
Portanto, se vocês realmente quiserem a paz, terão que mudar sua consciência para a consciência de Krishna, tanto no plano individual quanto no coletivo, através do processo simples de cantar o santo nome de Deus. Este processo é um processo modelar, reconhecido para se atingir a paz no mundo. Portanto, recomendamos que todos se tornem conscientes de Krishna, cantando Harê Krishna, Harê Krishna, Krishna Krishna, Harê Harê/ Harê Rãma, Harê Rãma, Rãma Rãma, Harê Harê.
Este processo é prático, simples e sublime. Há quinhentos anos esta fórmula foi introduzida na Índia pelo Senhor Sri Caitanya, e agora também está à sua disposição neste país. Adotem este processo simples de cantar o cântico supramencionado, compreendam sua posição verdadeira lendo o Bhagavad-gita Como Ele É e restabeleçam seu relacionamento com Krishna, que o resultado imediato será a paz e prosperidade mundiais.

CAPÍTULO DOIS

O Mantra Harê Krishna
“Não há nada superior...”

Uma entrevista com George Harrison

Se você abrir o seu coração
Saberá o que quero dizer
Há muito estamos poluídos
Mas aqui está a maneira de você se purificar

Cante os nomes do Senhor
E você se libertará
O Senhor espera que todos acordem e vejam.

(Trecho traduzido da canção “Awaiting On You All” do álbum All Things Must Pass)

No verão de 1969, antes da dissolução do mais popular grupo musical de todos os tempos, George Harrison produziu uma canção de sucesso, “O Mantra Hare Krishna”, executada por George e os devotos do templo Radha-Krishna de Londres. Logo após colocar-se entre os dez discos mais vendidos em toda a Inglaterra, Europa e partes da Ásia, Hare Krishna tornou-se uma expressão familiar – especialmente na Inglaterra, onde a BBC apresentara os Cantores Hare Krishna, como eles eram então chamados, quatro vezes no mais popular programa de televisão do país, Top of the Pops.
Quase ao mesmo tempo, a milhares de quilômetros de distância, diversos homens de cabeça raspada e com vestes açafroadas e mulheres vestidas de sari cantavam juntamente com John Lennon e Yoko Ono enquanto eles gravavam a canção de sucesso “Give Peace a Chance” (Dê uma Chance à Paz) em seu quarto no hotel Queen Elizabeth de Montreal: John and Yoko, Timmy Leary, Rosemary, Tommy Smothers, Bobby Dylan, Tommy Cooper, Derek Taylor, Norman Mailer, Allen Ginsberg, Hare Krishna , Hare Krishna. All we are saying is Give Peace a Chance.
Há vários dias que os devotos Hare Krishna visitavam os Lennons, conversando sobre a paz mundial e auto-realização. Devido a esta e a outras divulgadíssimas revelações, as pessoas em todo o mundo começaram logo a identificar os cantantes devotos Hare Krishna como precursores de um modo de vida mais simples, alegre e pacífico.
A busca espiritual que os Beatles empreenderam na década de 60 recebeu seu impulso a partir de George Harrison, e hoje, quase vinte anos mais tarde, o canto do maha-mantra Harê Krishna - Harê Krishna, Harê Krishna, Krishna Krishna, Harê Harê/ Harê Rãma, Harê Rãma, Rãma Rãma, Harê Harê – ainda desempenha um papel relevante na vida deste ex-Beatle.
Nesta conversa com seu velho amigo Mukunda Gosvami, um dos mais destacados líderes do Movimento Harê Krishna, gravada na casa de George na Inglaterra a 4 de setembro de 1982, George revela algumas experiências memoráveis que tem tido ao cantar Harê Krishna, e descreve com pormenores as profundas compreensões pessoais extraídas do cântico. Ele revelará que fatores levaram-no a produzir o disco “ Harê Krishna Mantra”, “My Sweet Lord”, e os LPs All Things Must Pass e Living in the Material World, que foram todos influenciados em grande parte pelo cântico e a filosofia de Harê Krishna. Ele fala amorosa e abertamente sobre sua associação com Sua Divina Graça A. C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada, Fundador-Acarya (mestre espiritual) do Movimento Harê Krishna. Na entrevista a seguir, George fala francamente sobre sua filosofia pessoal relativa ao Movimento Harê Krishna, à música, à yoga, à reencarnação, ao karma, à alma, a Deus e ao cristianismo. A conversa termina com suas ternas reminiscências de uma visita à terra natal do Senhor Krishna, em Vrndavana, Índia, lar do mantra Harê Krishna, e com George discutindo como alguns de seus famosos amigos relacionaram-se com o mantra, agora ouvido e cantado em todo o mundo.

Mukunda Gosvami: Muitas vezes você diz ser um devoto à paisana, um yogi disfarçado ou um “Harê Krishna disfarçado”, e milhões de pessoas em todo o mundo foram induzidas ao canto através de suas canções. Mas e você? Como foi o seu primeiro contato com Krishna?
George Harrison: Através de minhas visitas à Índia. Lá pela época em que o movimento Harê Krishna veio pela primeira vez à Inglaterra, em 1969, John e eu já tínhamos conseguido o primeiro disco de Prabhupada, Consciência de Krishna. Nós o tocamos bastante e gostamos muito. Esta foi a primeira vez que ouvi o canto do maha-mantra.
Mukunda: Muito embora você e John Lennon tivessem tocado bastante o disco de Srila Prabhupada e o tivessem cantado muito, a seu próprio modo, vocês realmente nunca encontraram nenhum dos devotos. Mas, quando Gurudasa, Syamasundara e eu [os primeiros devotos Harê Krishna enviados da América para abrir um templo em Londres] chegamos à Inglaterra, você foi fiador do aluguel de nosso primeiro templo no centro de Londres, comprou o Manor* para nós, o qual serve de lugar, literalmente, para centenas de milhares de pessoas conhecerem a consciência de Krishna, e financiou a primeira impressão do livro Krishna. Você realmente não nos conhecia há muito tempo. Acaso isso foi uma espécie de mudança repentina em você?
George: Nem tanto, pois sempre me senti em casa com Krishna. Sabe, isto já fazia parte de mim. Creio que seja algo que me acompanha desde meu nascimento anterior. Sua vinda à Inglaterra e tudo aquilo era como outra peça de um quebra-cabeça, adicionada para completá-lo. Tudo estava se encaixando aos poucos. É por isso que correspondi com vocês daquela maneira, quando vocês chegaram pela primeira vez a Londres. Veja bem. “Se você tem que ser classificado e rotulado”, pensei, “prefiro estar com esses sujeitos do que com aqueles outros sujeitos.” É algo assim. Ou seja, prefiro ser um devoto de Deus do que uma dessas pessoas direitinhas e supostamente sãs e normais que simplesmente não entendem que o homem é um

* (Bhaktivedanta Manor, uma quinta de 7 hectáres perto de Londres, comprada por George em 1973 e doada à ISKCON para ser usada como templo e yoga-asrama.)

ser espiritual, que ele tem uma alma. E também me senti a vontade com todos vocês, muito mesmo, como se já nos conhecêssemos. Realmente, era uma coisa muito natural.
Mukunda: George, você foi um membro dos Beatles, sem dúvida o maior conjunto pop na história da música, que influenciou não só a música, mas também uma geração de jovens. Após a dissolução do grupo, você começou emergindo como um solista superstar, com álbuns como All Things Must Pass, o mais vendido no país por sete semanas consecutivas, e com o sucesso “My Sweet Lord”, que foi o número um nos Estados Unidos por dois meses. Em seguida, veio Living in the Material World, número um no Billboard por cinco semanas e com a vendagem de um milhão de LPs. Uma canção daquele álbum, “Give Me Love”, fez um sucesso arrasador por seis semanas consecutivas. O concerto para Bangladesh com Ringo Starr, Eric Clapton, Bob Dylan, Leon Russel e Billy Preston foi um sucesso fenomenal e, logo que o LP e o filme do concerto de rock fossem lançados, tornar-se-iam o mais exitoso projeto beneficente de todos os tempos. Assim, você teve sucesso material. Você tinha estado em toda parte, feito tudo, mas, ao mesmo tempo, você tinha indagações espirituais. Que realmente fez você começar a viagem espiritual?
George: Isso só aconteceu quando estourou a experiência dos anos 60. Você sabe, nós tivemos sucesso e encontramos todas as pessoas que julgávamos dignas de encontrar, mas descobrimos que elas realmente não eram dignas de serem encontradas. Tínhamos mais discos de sucesso do que qualquer outra pessoa, enfim, tínhamos tudo e mais um pouco neste mundo. Era como subir ao topo de um muro e então olhar em volta e ver que há outras coisas do outro lado. Assim, senti que fazia parte do meu dever dizer: “Tudo bem. Talvez você pense que isto é tudo que você precisa – ser rico e famoso – mas, na verdade, não é.”
Mukunda: George, em sua autobiografia publicada recentemente, I, Me, Mine, você diz que sua canção “Awaiting on You All” é sobre japa-yoga, ou cantar mantra em contas. Você explica que, mantra é uma “energia mística contida numa estrutura sonora”, e que, “cada mantra contém determinado poder dentro de suas vibrações.” Mas, de todos os mantras, você afirmou que o “maha-mantra [o mantra Harê Krishna] é prescrito como a maneira mais fácil e segura de, na atual era, compreendermos Deus.” Como praticante de japa-yoga, que experiências você tem tido ao cantar?
George: Prabhupada* disse-me certa vez que devemos simplesmente nos manter cantando o tempo todo, ou tanto quanto possível. Ao fazer isso, você percebe o benefício. O fruto de se cantar é a bem-aventurança, ou felicidade espiritual, que tem um sabor muito superior a qualquer outro encontrado aqui no mundo material. É por isso que digo que, quanto mais você canta, menos você quer parar, porque é uma sensação tão boa de paz.
Mukunda: Que há no mantra que provoca este sentimento de paz e felicidade?
George: A palavra Hare é a palavra que invoca a energia que envolve o Senhor. Se você canta o mantra bastante, cria uma identificação com Deus. Deus é felicidade plena, bem-aventurança plena, e, cantando Seus nomes, nos unimos a Ele. Assim, este é um processo de realmente compreender Deus, processo este que torna tudo claro com o estado de consciência expandida que se desenvolve quando você canta. Como eu disse na introdução que há alguns anos escrevi para o livro Krishna, de Prabhupada: “Se Deus existe, quero vê-lO. É inútil crer em algo sem ter provas e a consciência de Krishna e a meditação são métodos através dos quais realmente podemos perceber Deus.”
Mukunda: É um processo instantâneo ou gradual?
George: Não é coisa de cinco minutos. É algo que leva tempo, mas funciona, pois, sendo um processo direto de alcançar Deus, nos ajudará a ter consciência pura e boa percepção, acima do estado normal e cotidiano de consciência.
Mukunda: Como você se sente após cantar por longo tempo?
George: Na vida que levo, às vezes observo que tenho oportunidades em que posso cantar mesmo, e, quanto mais o faço, sinto que é mais difícil parar, e não quero perder a sensação que isso me dá.
Por exemplo, cantei o mantra Harê Krishna certa vez durante o percurso entre França e Portugal, sem parar. Dirigi cerca de vinte e três horas e cantei o tempo todo. É algo que faz você se sentir um tanto invencível. O engraçado é que eu nem mesmo sabia

*Sua Divina Graça A. C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada, Fundador-Acarya (mestre espiritual) do Movimento Harê Krishna.

para onde estava indo. Ou seja: eu tinha comprado um mapa, e sabia basicamente para onde me dirigia, mas não sabia falar francês, espanhol ou português. Se bem que nada disso parece importante. Você sabe, quando você começa a cantar, as coisas passam a acontecer transcendentalmente.
Mukunda: Os Vedas nos informam que, como Deus é absoluto, não há diferença entre a pessoa de Deus e Seu santo nome: o nome é Deus. Quando você começou a cantar, pôde perceber isso?
George: É necessário ter um pouco de tempo e fé para compreender que não há diferença entre Ele e Seu nome, para chegar ao ponto em que você não é mais mistificado sobre onde Ele está. É o tal negócio: “Será que Ele está aqui por perto?” Você compreende após algum tempo que “Ele está aqui – bem aqui!” É uma questão de prática. Assim, quando digo que vejo Deus não quero necessariamente dizer que ao cantar vejo Krishna sob Sua forma original, com a qual Ele veio aqui há cinco mil anos, dançando em cima da água, tocando Sua flauta. Evidentemente, isso também seria ótimo, e é bem possível também. Quando você, ao cantar, torna-se realmente puro, você pode ver Deus desse jeito, ou seja, pessoalmente. Mas não há dúvida de que você pode sentir a presença dEle e saber que Ele está presente quando você canta.
Mukunda: Você pode se lembrar de algum incidente em que, através do canto, sentiu fortemente a presença de Deus?
George: Certa vez eu estava num avião que passava por uma tempestade cheia de relâmpagos. Ele foi atingido por raios três vezes, e um Boeing 707 passou bem em cima de nós, faltando um triz para colidir com nosso avião. Pensei que a cauda do avião havia explodido. Eu estava viajando de Los Angeles para Nova Iorque para organizar o concerto para Bangladesh. Logo que o avião começou a sacudir, comecei a cantar Harê Krishna, Harê Krishna, Krishna Krishna, Harê Harê/ Harê Rãma, Harê Rãma, Rãma Rãma, Harê Harê. Aquilo continuou por cerca de uma hora e meia ou duas horas, o avião baixando centenas de metros e sacudindo em meio à tempestade, todas as luzes apagadas e todas aquelas explosões. Todos estavam aterrorizados. Acabei com meus pés prensados contra o assento da frente, meu cinto de segurança o mais apertado possível, e eu gritando Harê Krishna, Harê Krishna, Krishna Krishna, Harê Harê a plenos pulmões. Sei que saí vivo daquela porque cantei o mantra. Peter Sellers também jura que se salvou certa vez de um desastre aéreo por ter cantado Harê Krishna.
Mukunda: Algum outro Beatle cantava?
George: Antes de encontrar Prabhupada e todos vocês, eu havia comprado aquele disco que Prabhupada gravou em Nova Iorque, e John e eu o ouvíamos. Lembro-me de que o cantamos por dias a fio, com guitarras havaianas, navegando pelas ilhas gregas cantando Harê Krishna. Como não conseguíamos parar de cantar, cantamos por cerca de seis horas. Logo que parávamos, era como se as luzes tivessem se apagado. Continuamos até nossas gargantas começarem a doer, cantando o mantra mais e mais e sempre mais. Sentíamo-nos enlevados; aquele nos foi um momento muito feliz.
Mukunda: Sabe, vi uma fita de vídeo outro dia, enviada a nós do Canadá, mostrando John e Yoko Ono gravando seu sucesso “Give Peace a Chance.” Cerca de cinco ou sei devotos estavam no quarto de John no Queen Elizabeth Hotel em Montreal, cantando juntos e tocando címbalos e tambores. Você sabe, John e Yoko cantavam Hare krishna naquela canção. Isso foi em maio de 1969. Três meses mais tarde, Srila Prabhupada hospedou-se por um mês na quinta que John e Yoko tinham nos arredores de Londres. Enquanto Srila Prabhupada esteve ali na quinta, você, John e Yoko vieram a seu quarto certa tarde, e creio que aquela foi a primeira vez que vocês se encontraram com ele.
George: É verdade.
Mukunda: Naquela época, John estava na busca espiritual, e Prabhupada explicou-lhe o verdadeiro caminho para a paz e a liberação. Os temas da conversa foram a eternidade da alma, o karma, a reecarnação, temas muito bem discutidos nos textos védicos.* Embora John nunca tivesse feito de Harê Krishna uma grande parte de sua vida, ele ecoou a filosofia da consciência de Krishna em “Instant Karma”, canção composta um ano após aquela conversa.
Agora, qual a diferença entre cantar Hare Krishna e meditação?
George: Na verdade, cantar é o mesmo que meditar, mas creio

*Vasto conjunto de escrituras, incluindo os quatro Vedas anteriores à Bíblia e cobrindo todos os aspectos do conhecimento espiritual, desde a natureza do eu, ou a alma individual, até a Suprema Alma (Sri Krishna) e Seu reino no mundo espiritual.

que tem um efeito mais rápido. Mesmo que você deixe as contas num canto, você ainda pode dizer o mantra ou cantá-lo sem precisar usar as contas. Uma das principais diferenças entre meditação silenciosa e cantar Harê Krishna é que a meditação silenciosa depende mais de concentração, mas, quando você canta, trata-se de uma ligação mais direta com Deus.
Mukunda: O maha-mantra foi prescrito para os tempos modernos devido à natureza agitada das coisas modernas. Mesmo quando as pessoas encontram um cantinho sossegado é muito difícil acalmar a mente por muito tempo.
George: Isso é verdade. Cantar Harê Krishna é uma espécie de meditação que se pode praticar mesmo quando a mente está turbulenta. Você pode inclusive estar cantando e fazendo outras coisas ao mesmo tempo. Isso que é tão bom. Em minha vida, muitas vezes o mantra ajeitou as coisas para mim. Ele me mantém em harmonia com a realidade, e, quanto mais você se senta num lugar e canta, quanto mais incenso você oferece a Krishna no mesmo quarto, quanto mais você purifica a vibração, tanto mais você pode alcançar aquilo que está tentando fazer, que se resume em tentar lembrar-se de Deus, Deus, Deus, Deus, o mais freqüentemente possível. E se você fala com Ele através do mantra, decerto que isso ajuda.
Mukunda: Que mais lhe ajuda a fixar a mente em Deus?
George: Bem, basta que muitas coisas à minha volta me façam lembrar dEle, como incenso e quadros. Outro dia eu olhava para um pequeno retrato na parede de meu estúdio em que aparecem você, Gurudasa e Syamasundara, e, ao ver todos os antigos devotos, isso fez-me pensar em Krishna. Creio que essa é a função dos devotos – fazer você pensar em Deus.
Mukunda: Você canta frequentemente?
George: Sempre que tenho oportunidade.
Mukunda: Uma vez você fez uma pergunta a Srila Prabhupada sobre um verso védico em particular, no qual se diz que quando cantamos o santo nome de Krishna, Krishna dança em nossa língua e desejamos ter milhares de ouvidos e milhares de bocas com os quais possamos apreciar melhor os santos nomes de Deus.
George: Sim. Creio que ele estava falando sobre a compreensão de que não há diferença entre Ele estar diante de você e estar presente em Seu nome. Esta é a verdadeira beleza do canto: você se liga diretamente a Deus. Não tenho dúvida de que, dizendo Krishna repetidamente, Ele pode vir e dançar em minha língua. A coisa principal, contudo, é manter-se em contato com Deus.
Mukunda: Então, seu hábito é usar as contas quando você canta?
George: Ah! Sim. Tenho minhas contas. Lembro-me de quando as consegui, elas eram apenas ásperas bolas de madeira, mas agora alegra-me dizer que de tanto cantar elas se tornaram polidas.
Mukunda: Em geral, você as mantém dentro do saquinho quando canta?
George: Sim, acho muito bom ficar tocando-as. Isso mantém outro dos sentidos fixo em Deus. As contas realmente ajudam neste aspecto. O que me frustrava um pouco no começo eram as pessoas perguntar: “Você machucou a mão, quebrou-a ou algo assim?” só porque eu estava muito a fim de cantar e mantinha minha mão no saquinho de contas o tempo todo. Usar as contas também me ajuda a descarregar um monte de energia nervosa.
Mukunda: Algumas pessoas dizem que se todos do planeta cantassem Harê Krishna não seriam capazes de manter suas mentes naquilo que estivessem fazendo. Em outras palavras, se todos começassem a cantar, algumas pessoas perguntam se o mundo inteiro não iria parar. Elas imaginam que as pessoas parariam de trabalhar em fábricas, por exemplo.
George: Não. Cantar não o impede de ser criativo ou produtivo. Pelo contrário, ajuda a concentrar-se mais. Acho que este seria um bom tema para a televisão: imagine todos os trabalhadores na linha de montagem da Ford em Detroit cantando Harê Krishna, Harê Krishna, enquanto parafusam rodas. Seria algo maravilhoso. Poderia inclusive ajudar a indústria automobilística e provavelmente fabricariam carros mais decentes.
Mukunda: Falamos bastante sobre japa, ou o canto personalizado, que a maioria dos cantores praticam. Mas há outra categoria chamada kirtana, ou seja, o canto congregacional no templo ou nas ruas, com um grupo de devotos. O kirtana geralmente produz um efeito mais sobrecarregado, como se recarregasse nossas baterias espirituais, e dá aos outros a oportunidade de ouvir os santos nomes e se purificar.
Na verdade, eu estava com Srila Prabhupada quando ele começou o canto em grupo no Tompkins Square Park no Lower East Side de Nova Iorque em 1966. O poeta Allen Ginsberg costumava vir e cantar muito conosco, tocando seu harmônio. Muitas pessoas vinham ouvir o canto, e depois Prabhupada dava aulas sobre o Bhagavad-gita quando voltávamos ao templo.
George: Sim, no templo, ou cantando com um grupo de pessoas, a vibração torna-se mais forte. Claro que, para certas pessoas é difícil simplesmente começar a cantar em suas contas em meio à multidão, enquanto outras sentem-se mais à vontade cantando no templo. Faz parte da consciência de Krishna tentar ocupar todos os sentidos de todas as pessoas: experimentar Deus através de todos os sentidos, não apenas experimentando-O aos domingos, ajoelhando-se em algum banco duro na igreja. Mas, se você visita um templo, pode ver retratos de Deus, pode ver a forma da Deidade do Senhor e pode simplesmente ouvi-lO, ouvindo-se a si mesmo e aos outros pronunciando o mantra. Isto é apenas um modo de compreender que todos os sentidos podem ser utilizados para perceber Deus, o que torna o processo muito mais convidativo e atrativo: ver quadros, ouvir o mantra, cheirar incenso, flores e assim por diante. Isto é o que há de bom em seu movimento. Ele incorpora tudo – o canto, a dança, a filosofia e prasada*. A música e a dança também ocupam posições importantes no processo. Não se trata apenas de algo para queimar o excesso de energia.
Mukunda: Sempre observamos que, ao cantarmos na rua, as pessoas tendem a aglomerar-se em volta e ouvir. Muitas delas batem os pés e dançam conosco.
George: É incrível o som dos karatalas (címbalos). Quando os ouço a alguns quarteirões de distância, é como se algo mágico despertasse algo em mim. Sem ter verdadeira consciência do que está acontecendo, as pessoas estão sendo despertadas espiritualmente. É óbvio que, num sentido superior, o kirtana sempre continua, quer ouçamos, quer não.
Agora, na maioria das cidades ocidentais, o grupo de sankirtana é algo que se vê comumente. Adoro ver esses grupos de sankirtana, porque adoro a idéia de os devotos se misturarem com todo mundo, dando a todos a oportunidade de se lembrarem.

*Alimentos vegetarianos que são espiritualizados ao serem oferecidos ao Senhor Krishna com amor e devoção.

Escrevi na introdução do livro Krishna: “Todos procuram Krishna. Alguns não compreendem que estão, mas estão. Krishna é Deus... Cantando Seus santos nomes, o devoto rapidamente desenvolve consciência de Deus.”
Mukunda: Srila Prabhupada frequentemente dizia que, após o estabelecimento de um grande número de templos, muitas pessoas simplesmente começariam a adotar o canto de Harê Krishna em seus próprios lares e cada vez mais vemos que é isto o que está acontecendo. Nossa congregação mundial é muito grande – chega aos milhões. O canto nas ruas, os livros e os templos existem para dar às pessoas um início para introduzi-las ao processo.
George: É melhor que agora esteja sendo difundido nos lares. Há uma porção de “Harê Krishnas disfarçados”. Muitas pessoas aí fora só estão esperando, e, se não for hoje, será amanhã, ou na próxima semana, ou no próximo ano.
Nos anos sessenta, tudo com que nos identificávamos, queríamos difundir o mais alto que podíamos. Desenvolvi certas compreensões e passei por uma fase em que vivia tão extasiado com minhas descobertas e realizações que queria gritar e contá-las a todos. Mas, há o momento em que você deve gritar e o momento em que não deve gritar. Muita gente viveu às ocultas com sua vida espiritual nos anos setenta, em pequenos cantos e becos e na área rural, pessoas aparentemente antiquadas que se vestem certinho, tipo vendedor de seguros, mas que na realidade são contemplativas e praticantes do canto, devotos disfarçados.
O movimento de Prabhupada está indo muito bem. Está crescendo rapidamente. Não sei quanto tempo vai demorar até chegarmos a uma Era Dourada, em que todos se harmonizam perfeitamente com a vontade de Deus. Mas, por causa de Prabhupada, a consciência de Krishna tem sem dúvida se espalhado mais nos últimos dezesseis anos do que se espalhou desde o Século XVI, desde o tempo do Senhor Caitanya*. O mantra tem se espalhado mais rapidamente e o movimento está cada vez maior. Seria incrível se todos cantassem. Todos se beneficiariam fazendo-o. Por mais dinheiro que você consiga, você não alcança a felicidade. Você precisa encontrar sua felicidade com os problemas que tem. Não

*O grande santo, místico e encarnação de Krishna que popularizou o canto de Harê Krishna e fundou o moderno movimento Harê Krishna.

se importe muito com eles e cante Harê Krishna, Harê Krishna, Krishna Krishna, Harê Harê.
Mukunda: Em 1969 você produziu uma canção chamada “O Mantra Harê Krishna”, que depois fez sucesso em muitos países. Aquela melodia mais tarde tornou-se uma faixa no álbum Templo Radha-Krishna que você também produziu com selo da Apple e foi distribuído nos Estados Unidos pela Capitol Records. Muita gente que trabalhava em gravadoras ficou surpresa com isto: você produzindo canções para os Harê Krishnas e cantando com eles. Por que você fez isso?
George: Bem, tudo isso é serviço não é? Serviço espiritual, para tentar difundir o mantra em todo o mundo e dar aos devotos uma base mais ampla e um maior sustentáculo na Inglaterra e em tantos outros lugares.
Mukunda: Como o sucesso deste disco em que os devotos Harê Krishna cantam compara-se com o de alguns dos músicos de rock cujos discos você produzia naquela época, como Jackie Lomax, Splinter e Billy Preston?
George: Isto foi diferente. Não tinha nada a ver com aquilo, realmente. Eu tinha muito mais razões para fazer o disco com os devotos. Havia menor potencial comercial naquele disco, mas era muito mais satisfatório fazê-lo, sabendo das possibilidades que ele criaria, das conotações que ele teria simplesmente por apresentar o mantra durante três minutos e meio. Aquilo, realmente foi mais divertido do que tentar fazer um disco pop de sucesso. Era o sentimento de tentar utilizar nossos talentos ou nossa ocupação e transformá-los em serviço espiritual a Krishna.
Mukunda: Que efeito você acha que aquela melodia, “O Mantra Harê Krishna”, tendo alcançado milhões e milhões de pessoas, surtiu na consciência cósmica do mundo?
George: Gosto muito de pensar que aquilo teve algum efeito. Afinal de contas, o som é de Deus.
Mukunda: Quando a Apple, a companhia de gravação, concedeu uma entrevista coletiva à imprensa para promover o disco, todos pareceram assustados de ouvir você falar sobre a alma e Deus como coisas tão importantes.
George: Eu sentia que era importante ser autêntico, deixá-los ficar sabendo o que estava acontecendo comigo. Eu queria sair do disfarce e realmente contar-lhes tudo. Isto porque, uma vez você compreenda algo, não pode mais fingir que não o conhece.
Eu pensei: esta é a era espacial, com aviões e tudo o mais. Se todos podem dar a volta ao mundo nas férias, não há razão pela qual o mantra não possa também ser amplamente difundido. Assim, a idéia era tentar fazer infiltração espiritual na sociedade, por assim dizer. Depois de conseguir que a Apple gravasse o disco e o lançasse, e depois de nossa grande promoção, vimos que ele se tornaria um sucesso. E o que é mais, uma das maiores alegrias da minha vida foi ver todos vocês no Top of the Pops da BBC. Eu nem acreditava. É dificílimo entrar naquele programa, porque eles só o põem lá se você fica entre os mais vendidos. Para mim, foi como respirar ar fresco. Minha estratégia era fazer uma apresentação do mantra de três minutos e meio para que eles tocassem no rádio, e tudo funcionou bem. Fiz um amplo arranjo de harmônio e guitarra para o disco nos estúdios Abbey Road, antes de uma seção dos Beatles, então regravei uma partitura com o baixo. Lembro que Paul MacCartney e sua esposa, Linda, vieram ao estúdio e gostaram do mantra.
Mukunda: Paul é bem favorável agora, você sabia?
George: Isto é muito bom. Ainda parece uma boa gravação, mesmo após todos esses anos. Foi muito incrível realmente ver Krishna no Top of the Pops.
Mukunda: Pouco após o lançamento, John Lennon disse-me que o tocaram num intervalo pouco antes de Bob Dylan fazer o concerto da Ilha de Wight com Jimi Hendrix, os Moody Blues e Joe Cocker no verão de 69.
George: Eles tocaram enquanto preparavam o palco para Bob. Foi incrível! Além disso era uma melodia absorvente, e as pessoas não precisavam saber o que significava para gostar dela. Senti-me muito bem logo que fiquei sabendo do sucesso que estava tendo.
Mukunda: Que você achou do disco tecnicamente, das vozes?
George: Yamuna, a cantora principal, tem uma voz naturalmente boa. Gostei da convicção com que ela cantou, e ela cantou como se tivesse cantado muitas vezes antes. Não parecia ser a primeira melodia que ela cantava.
Bem antes de encontrar qualquer devoto ou antes de encontrar-me com Prabhupada, como já tinha seu primeiro disco há pelo menos dois anos, eu costumava cantar o mantra. Quando você se abre para algo, é como se você fosse um sinal favorável que atrai aquilo. Desde a primeira vez que ouvi o canto, foi como uma porta aberta em alguma parte de meu subconsciente, talvez proveniente de alguma vida anterior.
Mukunda: Na letra daquela canção “Awaiting on You All,” do álbum All Things Must Pass, você se manifesta e diz às pessoas que, cantando os nomes de Deus, elas podem libertar-se do mundo material. Que o levou a fazer aquilo? Que espécie de reação você obteve?
George: Naquela época, ninguém se dedicava àquele tipo de música no mundo pop. Eu senti que era algo muito necessário. Então, ao invés de sentar-me e esperar que alguém o fizesse, decidi fazê-lo eu mesmo. Muitas vezes pensávamos: “Bem, concordo com você, mas não estou a fim de me envolver com isso. É muito arriscado.” Todos sempre tentam manter-se cobertos, comerciais, mas eu pensei: vá e faça! Ninguém mais está fazendo, e eu estou doente de ver tantos jovens de bobeira, desperdiçando suas vidas, entende? Eu também senti que havia muita gente por aí que se tocaria. Ainda hoje recebo cartas de pessoas dizendo: “Faz três anos que vivo no templo Harê Krishna e jamais teria conhecido Krishna se você não tivesse gravado o álbum “All Things Must Pass.” Assim, sei que, pela graça do Senhor, represento uma pequena parte no teatro cósmico.
Mukunda: E os outros Beatles? Que eles pensavam de você ter adotado a consciência de Krishna? Qual foi a reação deles? Todos vocês haviam estado na Índia então e, realmente, buscavam algo espiritual. Syamasundara disse-me certa vez, após almoçar com você e os demais Beatles, que todos eram muito respeitosos.
George: Ah! Sim. Bem, se as Quatro Fábulas não entrassem nessa, isto é, se eles não pudessem lidar com Harê Krishna de cabeça raspada, então não haveria nenhuma esperança! (Risadas). E os devotos vinham associar-se comigo, o que fazia as pessoas pensar: “Ei, o que é isto?” Sabe como é, assim que alguém vestido de laranja, com cabeça raspada, aparecia, diziam: “Ah! Sim. Eles estão com George.”
Mukunda: Desde o começo, você sempre se sentiu à vontade Junto com os devotos?
George: A primeira vez que encontrei Syamasundara, gostei dele. Ele era meu chapa. Eu havia lido na capa do disco de Prabhupada sobre a sua vinda da Índia até Boston, e sabia que Syamasundara e todos vocês tinham a mesma idade que eu, e que a única diferença, realmente, era que vocês já haviam se juntado ao movimento, e eu não. Eu estava num grupo de rock, mas não tinha medo, porque, na Índia, havia visto dhotis, suas vestes e a cor açafroada e a cabeça raspada. A consciência de Krishna era especialmente boa para mim porque eu não sentia que precisasse raspar a cabeça, mudar para o templo e ser devoto em tempo integral. Assim, era uma coisa espiritual que se adaptava muito bem ao meu estilo de vida. Eu ainda podia ser músico, mas só fiz mudar minha consciência, isto é tudo.
Mukunda: A mansão e quinta Tudor que você nos doou nos arredores de Londres tornou-se um de nossos maiores centros internacionais. Como você se sente quanto ao sucesso de o Bhaktivedanta Manor propagar a consciência de Krishna?
George: Ah! É incrível. E também se relaciona com a produção do disco Harê Krishna ou qualquer um de meus envolvimentos. Na verdade, isso me dá muito prazer, a idéia de que tive a fortuna de poder ajudar em algum momento. Todas essas canções com temas espirituais são como pequenas tomadas – “My Sweet Lord” e as outras. E agora sei que as pessoas são muito mais respeitosas e receptivas quando vêem os devotos nas ruas e tudo o mais. Já não é mais como um bicho de sete cabeças.
Também tenho dado muitos livros de Prabhupada a muitas pessoas, e quer eu as veja de novo, quer não, é bom saber que elas o receberam, e se elas o lerem, suas vidas poderão mudar.
Mukunda: Quando você depara com pessoas que têm inclinação espiritual mas não têm muito conhecimento, que espécie de conselho você lhes dá?
George: Tento dizer-lhes o pouco que sei, qual é minha experiência, e dar-lhes uma opção de coisas para ler e uma opção de lugares para ir – como você sabe: “Vá ao templo, tente cantar.”
Mukunda: No “Ballad of John and Yoko”, John e Yoko atacaram a imprensa pela maneira com que ela pode produzir uma falsa imagem de você e perpetuá-la. Levou bastante tempo e esforço para fazer a imprensa entender que somos uma religião genuína, com escrituras que antecedem o Novo Testamento em mais de três mil anos. Pouco a pouco, entretanto, mais pessoas, eruditos, filósofos e teólogos, têm se aproximado, e hoje respeitam muito a antiga tradição Vaisnava*, na qual o moderno movimento para a consciência de Krishna tem suas raízes.
George: A imprensa é culpada de tudo, de todos os conceitos errôneos sobre o movimento, mas, num sentido, não importa realmente se eles disseram algo bom ou mau, porque a consciência de Krishna sempre parece transcender, de qualquer forma, essa barreira. O fato de que a imprensa levou as pessoas a conhecer Krishna já foi bom.
Mukunda: Srila Prabhupada sempre nos treinou para nos mantermos fixos em nossos princípios. Ele dizia que a pior coisa que poderíamos fazer seria abrir alguma espécie de precedente ou diluir a filosofia em troca de popularidade barata. Embora muitos swamis e yogis tivessem vindo da Índia ao Ocidente, Prabhupada foi o único que teve a pureza e a devoção para estabelecer a milenar filosofia da consciência de Krishna em todo o mundo, com base em seus próprios termos – não açucarada, mas como ela é.
George: Isto é verdade. Ele foi um exemplo perfeito daquilo que pregou.
Mukunda: Como você se sentiu por ter financiado a primeira impressão do livro Krishna e escrito a introdução?
George: Senti como se tivesse cumprido minha obrigação, entende? Onde quer que eu vá no mundo, quando vejo os devotos, sempre lhes digo “Harê Krishna!” e eles sempre sentem prazer em me ver. É uma relação muito incrível. Quer me conheçam pessoalmente, quer não, eles sentem que me conhecem. E de fato me conhecem.
Mukunda: Quando você fez o álbum Material World, você usou uma foto interna tirada do Bhagavad-gita de Prabhupada, mostrando Krishna e Seu amigo e discípulo Arjuna. Por que?
George: Ah! sim. No álbum se diz: “Foto tirada do Bhagavad-gita Como Ele É de A. C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada.” Foi uma promoção para vocês, é claro. Eu quis dar a todos a oportunidade de ver Krishna, de conhecê-lO. Ou seja, esta é a idéia, não é?
Mukunda: Sim; hoje no almoço falamos um pouco sobre prasadam, alimentos vegetarianos que são espiritualizados ao serem oferecidos a Krishna no templo. Muitas pessoas aproximam-se da consciência de Krishna através da prasadam, especialmente através de nosso banquete de Krishna aos domingos, em todos os nossos templos no mundo inteiro. Ou seja, este processo é a única espécie de yoga que você pode praticar enquanto come.
George: Bem, devemos tentar ver Deus em tudo, de modo que ter o alimento para saborear ajuda muito. Vejamos: se Deus está em tudo, porque não saboreá-lO enquanto comemos? Acho que prasadam é algo muito importante. Krishna é Deus, assim Ele é absoluto: Seu nome, Sua forma, a prasadam, tudo é Ele. Dizem que se conquista um homem pela boca, de modo que, se você pode chegar à alma espiritual de um homem dando-lhe de comer, por que não fazê-lo? É algo que funciona. Não há nada melhor do que cantar e dançar, ou simplesmente sentar-se e falar de filosofia, e de repente os devotos lhe trazerem prasadam. É uma bênção de Krishna, e é espiritualmente importante. A idéia é que a prasadam é o sacramento de que falam os cristãos, só que, ao invés de ser apenas hóstia, é todo um banquete, e muito gostoso – do outro mundo! E a prasadam é uma boa isca nesta era de comercialismo. Quando as pessoas querem algo extra, ou precisam ter algo especial, a prasadam fisga-os neste ponto. Sem dúvida, a prasadam tem sido um fator muito importante no processo de envolver mais pessoas na vida espiritual. Além disso, rompe preconceitos. Isto porque as pessoas pensam: “Ah! bem, sim, não há nada de mau em beber algo ou em beliscar algo.” E depois dizem: “Que é isto?” e “Ah! sim, é prasadam.” Então aprendem outro aspecto da consciência de Krishna. Em seguida, dizem: “Está muito gostoso. Pode me servir outro prato?” Tenho visto isto acontecer com muita gente, especialmente com pessoas velhas que vêm a seus templos. Talvez elas tivessem um certo preconceito, mas, vira e mexe, elas se apaixonam pela prasadam e por fim vão-se embora do templo, pensando: “Até que eles não são tão maus.”
Mukunda: Os textos védicos revelam que a prasadam, tanto quanto o canto, conduz à compreensão espiritual, mas de uma maneira óbvia ou evidente. Pelo simples fato de a comer, você avança espiritualmente.
George: Eu diria, por experiência própria, que funciona, sem dúvida. Sempre desfrutei muito mais da prasadam quando estive no templo ou quando estive sentado com Prabhupada do que quando alguém a trazia para mim. Às vezes, você pode se sentar, tomando prasadam, e nem perceber que se passaram três a quatro horas. A prasadam realmente me ajudou muito, porque você começa a compreender: “agora estou saboreando Krishna.” De repente, você se conscientiza de outro aspecto de Deus, entendendo que Ele é uma pequena samosa*. É tudo uma questão de sintonizar com o mundo espiritual, e prasadam é uma parte muito real disso tudo.
Mukunda: Muitos grupos de rock, como o Grateful Dead e o Police, tomam prasadam nos bastidores antes de seus concertos. Eles adoram prasadam. É uma tradição já muito comum entre nós. Lembro-me de uma vez ter enviado prasadam a uma das seções de gravação dos Beatles. E sua irmã me dizia hoje que, enquanto você fazia o concerto para Bangladesh, Syamasundara costumava trazer prasadam para todos vocês nos ensaios.
George: Sim, ele chegou a ser mencionado na capa do álbum.
Mukunda: Quais são suas espécies favoritas de prasadam, George?
George: Eu gosto mesmo é de pakoras*. E uma coisa que sempre gostei foi rasamalai (um doce de leite). E também há uma porção de boas bebidas, sucos de frutas e lassi, as bebidas de iogurte misturadas com frutas e às vezes com água de rosa.
Mukunda: Você se lembra de quando convidamos a imprensa em Londres para um grande banquete de promoção do disco “O Mantra Hare Krishna”? Eles ficaram muito surpresos, pois então ninguém realmente nos conhecia por nossas comidas. Ainda hoje, se pensam em nós, as pessoas dizem: “São aqueles que cantam e dançam nas ruas”, porém, cada Vez mais nos relacionam com a prasadam: “São aqueles dos jantares vegetarianos gratuitos.”
George: A imprensa provavelmente pensava: “Bem, chegou a hora do tal banquete e a gente tem que ir.” E de repente eles descobrem que aqueles típicos pratos indianos são muito melhores do que quaisquer pratos que poderiam encontrar em qualquer um dos restaurantes locais. Eles ficavam bastante impressionados.
Mukunda: Até o momento servimos cerca de 150 milhões de pratos de prasadam nos banquetes gratuitos em todo o mundo, isto para não falar de nossos restaurantes.

*Pastel de couve-flor e ervilha, frito em manteiga clarificada.
*Couve-flor mergulhada em massa e frita em manteiga clarificada.

George: Vocês deviam colocar isso em letreiros como fazem aquelas lanchonetes que vendem hambúrguer. Algo como “150 milhões já servidos.” Acho que seria incrível. É uma pena vocês não terem restaurantes ou templos em todas as principais ruas de cada cidade e aldeia como existem essas lanchonetes de hambúrguer e frango assado. Vocês deviam levá-los à falência.
Mukunda: Você já esteve em nosso restaurante de Londres, Healthy, Wealthy and Wise?
George: Muitas vezes. É ótimo ter esse e outros restaurantes por aí, onde os devotos à paisana servem as refeições. As pessoas acabam compreendendo: “Esse é um dos melhores restaurantes em que já estive”, e continuam freqüentando. Então, talvez elas adquiram algum livro ou panfleto ali e digam: “Ah! este restaurante é dos Hare Krishnas.” Acho que há muito valor também nesse tipo de abordagem mais sutil. Healthy, Wealthy and Wise tem alimentos adequados, bons, um cardápio equilibrado, e tudo é fresco. E, ainda mais importante, são feitos com devoção, o que é muito significativo. Quando você sabe que alguém cozinhou algo com má vontade, parece que já não tem um sabor tão bom como quando alguém o faz tentando satisfazer a Deus, oferecendo-Lhe primeiro. Só isto basta para fazer o alimento ficar muito mais saboroso.
Mukunda: Paul e Linda McCartney freqüentemente tomam prasada no Healthy, Wealthy and Wise. Há pouco tempo, Paul encontrou-se com um devoto perto de seu estúdio em Londres e escreveu uma canção sobre isso. Numa entrevista em James Johnson num jornal londrino, ele disse: “Minha canção ‘One of These Days’ é sobre o encontro que tive com um Hare Krishna a caminho do estúdio e conversamos sobre estilos de vida e assim por diante. Pessoalmente não sou um Hare Krishna, mas simpatizo muito com eles.”
George, faz muitos anos que você é vegetariano. Você tem tido alguma dificuldade para manter-se assim?
George: Não. Na verdade tomei providências para ter dahl (sopa de ervilha, ou lentilha) ou algo parecido todos os dias. Na verdade, as lentilhas são uma das coisas mais baratas, mas elas lhe dão vitamina A-1. As pessoas só fazem se complicar quando saem para comprar filé mignon, que as mata de câncer e ataques cardíacos. Além disso, a carne custa uma fortuna. Você poderia alimentar milhares de pessoas com sopa de lentilhas ao custo de meia dúzia de filés. Acaso isso faz sentido?
Mukunda: Uma das coisas que realmente tem um profundo efeito sobre as pessoas quando elas visitam os templos ou lêem nossos livros são as pinturas e esculturas feitas por nossos artistas devotos, de cenas dos passatempos de Krishna quando Ele apareceu na Terra há cinco mil anos. Certa vez, Prabhupada disse que essas pinturas eram “janelas para o mundo espiritual”, e organizou uma academia de arte, treinando seus discípulos nas técnicas de criar arte transcendental. Agora, dezenas de milhares de pessoas têm essas pinturas em suas casas, sejam originais, litografias ou posters. Você visitou nosso museu de artes múltiplas do Bhagavad-gita em Los Angeles. Que tipo de efeito ele provocou em você?
George: Achei incrível – melhor do que a Disneylândia. Os dioramas esculpidos são geniais e a música, muito boa. O museu dá às pessoas uma idéia real do que seja o reino de Deus, e, o que é mais básico ainda, mostra de certa maneira que mesmo uma criança pode compreender com facilidade exatamente como o corpo é distinto da alma e como a alma é a coisa importante. Sempre tenho em volta de mim pinturas como a de Krishna na quadriga, que pus no álbum Material World, e tenho no jardim a fonte com um estátua de Siva* esculpida pelos devotos. As pinturas me ajudam muito quando estou cantando. Conhece aquela pintura no Bhagavad-gita da Superalma no coração do cachorro, da vaca, do elefante, do homem pobre e do sacerdote? Ela é ótima para ajudar a compreender que Krishna mora nos corações de todos. Não importa que classe de corpo você tenha, o Senhor está ali com você. Realmente, somos todos iguais.
Mukunda: George, você e John Lennon encontraram-se com Srila Prabhupada quando ele hospedou-se na casa de John, em setembro de 1969.
George: Sim, mas quando o encontrei pela primeira vez, eu o subestimei. Naquela ocasião, não pude compreender isso, mas agora vejo que, por causa dele, o mantra se espalhou tão amplamente nos últimos dezesseis anos, mais do que nos últimos cinco séculos. Isso é muito impressionante, porque ele estava ficando cada vez mais velho, e ainda escrevia seus livros o tempo

*Um dos principais semideuses hindus e devoto do Senhor Krishna.

todo. Mais tarde, compreendi que ele era muito mais incrível do que você podia ver numa análise superficial.
Mukunda: Que coisa dele você gravou mais na mente?
George: O que sempre permanece é ele dizendo: “Sou servo do servo do servo.” Eu gosto disso. Muitas pessoas dizem: “Eu sou isso. Sou a encarnação divina. Aqui estou, deixe-me desbancar você.” Entende que quero dizer? Mas Prabhupada nunca foi assim. Eu gostava da humildade de Prabhupada. Sempre gostei de sua humildade e simplicidade. O servo do servo é realmente o somos, entende? Nenhum de nós é Deus – somos apenas Seus servos. Ele simplesmente fazia-me sentir tão bem. Sempre me senti muito à vontade com ele, e me sentia mais como um amigo. Para mim, ele era um bom amigo. Muito embora ele tivesse 79 anos de idade na época, trabalhando praticamente a noite toda, dia após dia, dormindo pouquíssimo, ainda assim ele não me tratava com a atitude de um intelectual altamente educado porque ele tinha uma espécie de simplicidade infantil. Isto é incrível, fantástico. Embora ele fosse o maior erudito em sânscrito e um santo, eu apreciava o fato de que ele jamais fez eu me sentir desconfortável. De fato, ele nunca media esforços para fazer com que eu me sentisse à vontade. Eu sempre o tinha como uma espécie de amigo amoroso, realmente, e ainda hoje ele é meu amigo amoroso.
Mukunda: Em um de seus livros, Prabhupada disse que seu serviço sincero foi melhor que o de certas pessoas que pesquisaram mais profundamente a consciência de Krishna mas não puderam manter seu nível de fé. Como você se sente a este respeito?
George: Maravilhoso. É algo que me deu esperanças, porque, como dizem, mesmo um momento na companhia de uma pessoa divina, de um devoto puro de Krishna, pode ajudar tremendamente.
E acho que Prabhupada realmente ficou satisfeito com a idéia de que alguém de fora do templo estava ajudando a fazer o álbum. O simples fato de que ele estava satisfeito foi encorajador para mim. Eu sabia que ele gostava do disco “O Mantra Harê Krishna”, e ele pediu aos devotos que sempre tocassem aquela canção “Govinda”. Eles a tocam, não é mesmo?
Mukunda: Todo templo tem uma gravação desta canção, e nós a tocamos toda manhã quando os devotos se reúnem em frente ao altar, antes do kirtana. É uma instituição da ISKCON, pode-se dizer.
George: E se eu não recebia inspiração de Prabhupada em minhas canções sobre Krishna ou sobre a filosofia, eu a recebia dos devotos. Este era todo o estímulo de que eu precisava. Qualquer coisa espiritual que eu fizesse, fosse através de canções, fosse ajudando na publicação de livros, ou o que fosse, parecia realmente satisfazê-lo. Minha canção “Living in the Material World”, conforme escrevi em I, Me, Mine, foi influenciada por Srila Prabhupada. Foi ele quem me explicou que não somos esses corpos físicos. Simplesmente aconteceu de estarmos neles.
Como eu disse na canção, este lugar não é realmente aquilo que parece, não pertencemos a ele, mas sim ao céu espiritual:

“Pois estou condenado ao mundo material
Frustrado no mundo material
Os sentidos nunca satisfeitos
Somente oscilando como a maré
Que poderia me afogar no mundo material”

A única razão para estarmos aqui é encontrar o jeito de escapar.
Assim era Prabhupada. Ele não falava apenas de amar a Krishna e sair deste lugar, mas também era o exemplo perfeito. Ele falava sobre cantar sempre e vivia cantando. Creio que este próprio fato era talvez a coisa mais encorajadora para mim, pelo menos para fazer eu me esforçar cada vez mais, ser um pouquinho melhor. Ele era o exemplo perfeito de tudo o que pregava.
Mukunda: Como você descreveria as conquistas de Srila Prabhupada?
George: Creio que as consecuções de Prabhupada são muito significativas: são tremendas. Mesmo comparada a alguém como William Shakespeare, a quantidade de literatura que Prabhupada produziu é realmente espantosa. Assombra a mente. Ele às vezes passava dias com apenas poucas horas de sono. Creio que nem uma pessoa jovem e atlética poderia manter o ritmo que ele, aos setenta e nove anos de idade, mantinha.
Srila Prabhupada já provocou um efeito espantoso no mundo. Não há maneira de medi-lo. Um dia simplesmente comprovei: “Deus, este homem é espantoso!” Ele costumava traduzir a noite toda do sânscrito para o inglês, fazendo glossários para certificar-se de que todos entenderiam, e ainda assim nunca se mostrava como alguém superior a você. Ele sempre conservava aquela simplicidade infantil, e o mais espantoso é o fato de que ele fez toda essa tradução num tempo relativamente curto – apenas alguns anos. E, sem ter nada mais do que sua própria consciência de Krishna, ele atraiu todos esses milhares de devotos e transformou o movimento em algo tão forte que continuou mesmo após sua partida*. O movimento Hare Krishna continuará sempre e cada vez mais, devido ao conhecimento que Prabhupada deu. Quanto mais as pessoas despertarem espiritualmente, mais compreenderão a profundidade do que Prabhupada dizia – de tudo quanto ele deu.
Mukunda: Você sabia que as coleções completas dos livros de Prabhupada estão em todas as maiores faculdades e universidades do mundo, incluindo Harvard, Yale, Princeton, Oxford, Cambridge e Sorbonne?
George: Tinham que estar! Uma das coisas mais importantes que percebi em Prabhupada era a maneira como ele falava em inglês e de repente falava em sânscrito e depois traduzia novamente para o inglês. Ficava claro que ele realmente conhecia o assunto muito bem. Sua contribuição obviamente foi enorme do ponto de vista literário, porque ele enfocou mais a Pessoa Suprema, Krishna. Muitos eruditos e escritores conhecem o Gita, mas somente no nível intelectual. Mesmo quando eles escrevem “Krishna disse...” eles não o fazem com a bhakti, ou o amor, necessária. Este é o segredo, entende? Krishna realmente é uma pessoa que é o Senhor e que também aparecerá naquele livro quando houver amor, bhakti. Você não pode entender nada sobre Deus sem que o ame. Esses ditos grandes acadêmicos védicos – como não amam de verdade a Krishna, não podem entendê-lO e dá-lO a nós. Mas Prabhupada era diferente.
Mukunda: Os textos védicos predizem que, após o advento do Senhor Caitanya, há quinhentos anos, surgiria uma Era Dourada de dez mil anos, quando o cantar dos santos nomes de Deus anularia inteiramente todas as degradações da era moderna, e a verdadeira paz espiritual viria a este planeta.

*Sua Divina Graça A. C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada deixou este mundo material em 14 de novembro de 1977.

George: Bem, sem dúvida Prabhupada influenciou o mundo de maneira absoluta. O que ele nos dava era a literatura mais elevada, o conhecimento mais elevado. Creio que não existe nada superior.
Mukunda: Você escreve em sua autobiografia que “não importa quão bom você seja, ainda assim você precisa de misericórdia para escapar do mundo material. Você pode ser um yogi, um monge ou uma freira, mas, ainda assim, sem a graça de Deus, não conseguirá escapar.” E no fim da canção “Living in the Material World” a letra diz: “Tenho que escapar deste lugar pela graça do Senhor Sri Krishna, minha salvação deste mundo material.” Se dependemos da graça de Deus, que significa a expressão “Deus ajuda àqueles que se ajudam”?
George: Ela é flexível, creio. Por um lado, nunca sairei daqui a menos que seja pela graça dEle, mas por outro lado, Sua graça é relativa à quantidade de desejo que eu possa manifestar em mim mesmo. A quantidade de graça que eu espero de Deus deve ser igual à quantidade de graça que eu possa ganhar ou obter. Ganho conforme meu investimento. É como na canção que escrevi sobre Prabhupada:

O Senhor ama aquele que ama o Senhor
E a lei diz que se você não der
então não ganhará amor
Mas o Senhor ajuda aqueles que se ajudam
E a lei diz que qualquer coisa que você faça
voltará para você

“The Lord Loves the One that Loves the Lord”
tirado de Living in the Material World
Apple LP

Você ouviu aquela canção “That Which I Have Lost” (“Aquilo que Perdi”) do meu novo álbum, Somewhere in England? É tirada do Bhagavad-gita. Nela falo sobre lutar contra as forças da escuridão, das limitações, da falsidade e da mortalidade.
Mukunda: Sim, gosto dela. Se as pessoas puderem entender a mensagem do Senhor no Bhagavad-gita, poderão ser realmente felizes.
Muita gente, ao começar sua vida espiritual, adora Deus como algo impessoal. Qual a diferença entre adorar Krishna, ou Deus sob Sua forma pessoal, e adorar Sua natureza impessoal como energia ou luz?
George: É como a diferença entre lidar com um computador e lidar com uma pessoa. Como eu disse antes, “Se Deus existe, quero vê-lO”, não apenas ver Sua energia ou Sua luz, mas ele mesmo.
Mukunda: Que você julga ser a meta da vida humana?
George: Cada indivíduo tem que queimar seu próprio karma e escapar dos grilhões de maya* (ilusão), da reencarnação e tudo o mais. A melhor coisa que qualquer pessoa pode dar à humanidade é consciência de Deus. Só assim você pode realmente dar-lhes algo. Mas primeiro você tem que se concentrar em seu próprio avanço espiritual; assim, num sentido, temos que nos tornar egoístas para nos tornarmos altruístas.
Mukunda: E quanto à tentativa de resolver os problemas da vida sem empregar o processo espiritual?
George: A vida é como um pedaço de corda com um monte de nós. Os nós são o Karma que você traz de todas as suas vidas passadas, e o objetivo da vida humana é tentar desfazer todos esses nós. É isto o que o canto e a meditação em consciência de Deus podem fazer. Senão, você simplesmente faz outros dez nós cada vez que tenta desfazer um nó. É assim como funciona o karma. Ou seja, somos agora o resultado de nossas ações passadas, e no futuro seremos o resultado das ações que estamos realizando no presente. Uma pequena compreensão de “colherás aquilo que semeares” é importante, porque então você não pode culpar ninguém da condição em que você está. Você sabe que é por suas próprias ações que terá mais confusão ou menos confusão na vida. São suas próprias ações que o libertam ou o prendem.
Mukunda: No Srimad-Bhagavatam, a jóia de toda a literatura védica, descreve-se como as almas puras que vivem no mundo espiritual, na companhia de Deus, têm diferentes espécies de rasas*, ou relações, com Ele. Você gosta de alguma maneira especial de pensar em Krishna?

*A energia ilusória, que força a alma pura a pensar que ela é um corpo material e assim enreda-se na vida material.
*Quando uma alma materialmente condicionada purifica-se completamente, ela regressa ao lar, ao mundo espiritual, onde pode ter um sem-fim de relações íntimas com Deus, baseadas no grau de seu amor

George: Gosto da idéia de ver Krishna como bebê, do modo como Ele é freqüentemente retratado na Índia. E também de Govinda, o vaqueirinho. Gosto da idéia de que você pode ter Krishna como bebê e protegê-lO, ou como seu amigo, ou como o guru ou a figura do mestre.
Mukunda: Não creio que seja possível calcular quantas pessoas voltaram-se para a consciência de Krishna através de sua canção “My Sweet Lord”. Você passou por uma experiência muito pessoal antes de decidir fazer aquela canção. Em seu livro você disse: “Pensei muito sobre fazer ou não ‘My Sweet Lord’ porque estaria me revelando publicamente...* Muitas pessoas temem as palavras Senhor e Deus...Eu estava colocando meu pescoço debaixo da guilhotina...mas, ao mesmo tempo, pensei: ‘Ninguém está dizendo isto... porque devo ser falso comigo mesmo?’ Cheguei a acreditar na importância de que, se você sente algo muito forte, deve dizê-lo.”
“Eu queria mostrar que Aleluia e Harê Krishna são a mesma coisa. Fiz as vozes cantando ‘Aleluia’ e depois mudei para ‘Harê Krishna’ para que as pessoas cantassem o maha-mantra – antes que soubessem o que estava acontecendo! Fazia muito tempo que eu vinha cantando Harê Krishna e esta canção era uma simples idéia de como fazer uma canção pop ocidental equivalente a um mantra, que repete sempre e sempre os santos nomes. Não me sinto culpado ou mal com relação a isto; de fato, isso salvou muitos de uma vida viciada em heroína.”
Por que você achou que, de alguma forma, deveria pôr Harê Krishna no álbum? Só “Aleluia” não teria sido o bastante?
George: Bem, em primeiro lugar, “Aleluia” é uma expressão de júbilo dos cristãos, mas “Harê Krishna” tem seu lado místico. É mais do que apenas glorificar Deus; é pedir para tornar-se Seu servo. E, por causa da disposição do mantra, com a mística energia espiritual contida naquelas sílabas, está muito mais perto de Deus do que o modo como o cristianismo O representa comumente. Embora Cristo, a meu ver, seja um yogi, acho que muitos mestres cristãos de hoje em dia têm uma noção errada sobre Cristo.

*É possível relacionar-se com Krishna o Senhor Supremo como servo, amigo, pai ou amante. Todas essas relações no reino de Deus são inteiramente espirituais e não são maculadas pelas contaminações que afetam semelhantes relações no mundo material.

Supostamente eles representam Jesus, mas não o estão fazendo muito bem. Eles estão se desviando muito dele. O que é muito mau.
Minha idéia em “My Sweet Lord”, por parecer uma canção “pop”, era persuadi-los do seguinte: eu queria fazer com que eles não se sentissem ofendidos – primeiro, ouviram aleluia e, ao ouvirem “Harê Krishna”, já estavam fisgados, batendo os pés, de modo que se deixariam levar por um sentido de falsa segurança. E, de repente, quando eu mudasse o coro para “Harê Krishna”, eles o estariam cantando também, antes que se dessem conta do que acontecera, e pensariam: “Ei, eu achava que não devia gostar de Harê Krishna!”
As pessoas escrevem-me até hoje perguntando-me que estilo era aquele. Dez anos mais tarde elas ainda estão tentando entender o que significam aquelas palavras. Realmente, foi apenas um pequeno truque, e não ofendeu. Por alguma razão, nunca obtive nenhuma reação ofensiva dos cristãos, que apenas disseram: “Gostamos até certo ponto, mas que é que Harê Krishna tem a ver com tudo isto?”
Aleluia pode ter sido originalmente alguma coisa mântrica que caiu de moda, mas não tenho certeza do que significa realmente. A palavra grega para Cristo é Kristos, que no fundo é o mesmo que Krsna.
Mukunda: Qual seria, no seu modo de ver, a diferença entre Deus, conforme visto pelos cristãos, e Krishna conforme representado no Bhagavad-gita?
George: Quando vim pela primeira vez a esta casa, ela estava ocupada por freiras. Eu trouxe este pôster de Visnu (uma forma de Krishna de quatro braços). Nele você vê Sua cabeça e os ombros e Seus quatro braços portando o búzio e demais símbolos, e há um grande om* escrito em cima. Ele traz uma bela aura em volta dEle. Deixei-O perto da lareira e fui até o jardim. Quando voltei à casa, todas as freiras caíram em cima de mim, dizendo: “Que é isto? Que é isto?” como se tratasse de algum deus pagão. Então eu lhes disse: “Bem, se Deus é ilimitado, Ele pode aparecer sob qualquer forma, da maneira que Ele quiser aparecer. Esta é uma

*Esta sílaba transcendental, que representa Krishna, tem, em toda a história, sido cantada por muitas pessoas com vistas à perfeição espiritual.

das maneiras. Ele se chama Visnu.” Acho que isto foi demais para elas, mas o ponto é: por que deveria Deus ser limitado? Mesmo que você o tenha como Krishna, Ele não está limitado a esta pintura de Krishna. Ele pode ser a forma de bebê, Ele pode ser Govinda e manifestar-Se de tantas outras formas tão famosas. Você pode ver Krishna como um garotinho, que é como eu gosto de ver Krishna. É uma relação muito alegre. Mas existe este lado mórbido da visão do cristianismo atual, onde você não sorri, porque é sério demais, e não pode esperar ver Deus – coisas assim. Se Deus existe, temos que vê-lO, eu não acredito na idéia encontrada na maioria das igrejas, onde dizem: “Não, você não O Verá. Ele está muito acima de você. Simplesmente acredite no que dizemos e cale a boca.”
Em outras palavras, o conhecimento dado nos livros de Prabhupada – a coisa védica – baseia-se nas escrituras mais antigas do mundo. Elas dizem que o homem pode purificar-se e, com visão divina, ele pode ver Deus. Você se purifica cantando, e aí você O vê. E o sânscrito, a linguagem em que são escritas, é a primeira língua registrada no mundo. Devanagari (o alfabeto do idioma sânscrito) significa “linguagem dos deuses”.
Mukunda: Qualquer pessoa que esteja sinceramente tentando avançar espiritualmente e ser consciente de Deus, não importa a que religião pertença, pode normalmente ver o valor do cantar.
George: É verdade. É uma questão de ser aberto. Qualquer pessoa aberta pode fazê-lo. Basta você ser aberto e sem preconceitos. É uma questão de tentar. Não há nada a perder. Mas os “intelectuais” sempre terão problemas, porque eles sempre precisam “conhecer”. Quase sempre, eles são as pessoas espiritualmente mais fracassadas, porque nunca saem da casca: eles não entendem o significado de “transcender” o intelecto. Mas, uma pessoa comum está mais disposta a dizer: “Está bem, deixe-me ver se isto funciona.” Cantar Harê Krishna também pode fazer da pessoa um cristão melhor.
Mukunda: Em I, Me, Mine, você fala sobre karma e reencarnação, e de como a única maneira de escapar do ciclo é aceitar um processo espiritual genuíno. Você diz num trecho: “Todos estão preocupados com a morte, mas a causa da morte é o nascimento. Assim, se você não quer morrer, não nasça!” Algum dos outros Beatles acreditava na reencarnação?
George: Tenho certeza que John acreditava! E não gostaria de subestimar Paul e Ringo. Eu não me surpreenderia se eles tivessem alguma esperança de que isto seja verdade. Pelo que conheço de Ringo, ele deve ser um yogi disfarçado de baterista!
Mukunda: Paul tem nosso último livro, Retornando: a Ciência da Reencarnação. Onde você pensa que a alma de John está agora?
George: Espero que ele esteja num bom lugar. Ele tinha a compreensão, entretanto, de que cada alma reencarna até se purificar completamente e de que cada alma recebe aquilo que merece, conforme as reações a suas ações nesta vida e em vidas anteriores.
Mukunda: Bob Dylan cantou muito Harê Krishna certa vez. Ele costumava visitar o templo de Los Angeles e também os templos de Denver e Chicago. De fato, certa vez ele viajou de carro por todos os Estados Unidos com dois devotos e escreveu várias canções sobre Krishna. Eles passaram bastante tempo cantando.
George: É verdade. Ele disse que gostou de cantar e de estar com eles. Também Stevie Wonder fala de vocês em um de seus discos. É incrível a melodia que ele pôs no mantra em “Pastimes Paradise”.
Mukunda: Quando você estava em Vrndavana, Índia, onde o Senhor Krishna apareceu, e viu milhares de pessoas cantando Harê Krishna, isto fortaleceu sua fé na idéia de cantar ao ver toda uma cidade vivendo à maneira Harê Krishna?
George: Sim, isto nos fortalece muito. Ajuda mesmo. É fantástico estar num lugar onde toda a cidade faz a mesma coisa. E também tive a impressão de que eles ficam chocados com a idéia de ver alguma pessoa branca cantando nas contas. Vrndavana é uma das cidades mais sagradas na Índia. Ali, todos, em toda parte, cantam Harê Krishna. Foi a experiência mais fantástica que tive em minha vida.
Mukunda: Você escreveu em seu livro: “Quase o mundo inteiro está perdendo tempo, especialmente as pessoas que julgam controlar o mundo e a comunidade. Os presidentes, os políticos, os militares, etc., estão agindo como burros, pensando ser os senhores de seus próprios domínios. Este é basicamente o Problema Número Um no planeta.”
George: É isso mesmo. A menos que você esteja fazendo algo consciente de Deus e saiba que Ele é a pessoa que realmente controla, está apenas acumulando um monte de karma e não está se ajudando nem a ninguém mais. Sinto em mim algo bem pior que a melancolia, vendo o estado do mundo atual. Ele está tão confuso. É terrível, e a coisa piora cada vez mais. Mais concreto em toda parte, mais poluição, mais radioatividade. Não há mais mata virgem, nem ar puro. Estão devastando as florestas, poluindo os oceanos. Num sentido, sou pessimista quanto ao futuro do planeta. Esses marmanjos não compreendem que, para tudo o que fizerem, haverá uma reação. Eles terão que pagar. Assim é o karma.
Mukunda: Você acha que há alguma esperança?
George: Sim. Um por um, todos precisam escapar de maya. Todos precisam queimar seu karma e escapar da reencarnação e tudo o mais. Parem de pensar que se a Inglaterra, os Estados Unidos ou a Rússia, ou o Ocidente, ou o que seja, se tornarem superiores, então os derrotaremos, e assim descansaremos e viveremos felizes para sempre. Isto não funciona. A melhor coisa que você pode dar é consciência de Deus. Primeiro manifeste sua divindade. A verdade está nisto. Está bem dentro de nós todos. Entenda o que você é. Se as pessoas despertassem para aquilo que é real, não haveria misérias no mundo. Creio que cantar Harê Krishna é um ótimo ponto de partida.
Mukunda: Muito obrigado, George.
George: De nada. Harê Krishna!

CAPÍTULO TRÊS

O Cantar da liberação

Srila Prabhupada, John Lennon e Yoko Ono, e George Harrison conversam acerca do mantra Harê Krishna.
Montreal Star, junho de 1969:
Repórter: De onde é que vem sua força?
John Lennon: De Harê Krishna.
Yoko Ono: É daí que a conseguimos, sabe? Não negamos isso.
Em setembro de 1969, A. C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada, fundador-acarya (mestre espiritual) do Movimento Harê Krishna, chegou como convidado a Tittenhurst Park, a bela quinta de trinta e dois hectares, propriedade de John Lennon. Três ou quatro vezes por semana, o Swami, que mais tarde ficou mundialmente conhecido como Srila Prabhupada, dava palestras públicas numa grande e imponente construção, situada no extremo norte da propriedade, a cem metros da casa principal, onde viviam John e Yoko.
Esta construção fora utilizada anteriormente como salão de recitais de música de câmara, mas agora vários discípulos de Srila Prabhupada, que residiam com ele em um conjunto de casas de hóspedes na propriedade, instalaram um pequeno altar com Deidades e fizeram um assento especial para Srila Prabhupada. Na verdade, a construção jamais fora conhecida por um nome em particular, mas, após a chegada de Srila Prabhupada, todos chamaram-na de “o Templo”.
Hoje em dia, ainda chamam-na de “o Templo’, e, a não ser pelo acréscimo de um enorme órgão vermelho e dourado que cobre quase que totalmente a gigantesca parede, ela continua inalterada, agora rodeada de um estúdio de gravações, propriedade de Ringo Starr.
Aos 14 de setembro, John, Yoko e George Harrison, após deleitarem-se com uma refeição vegetariana preparada pelos devotos no Templo, dirigiram-se até o aposento de Srila Prabhupada, onde mantiveram seu primeiro encontro.
Yoko Ono: Se Harê Krishna é um mantra tão forte e poderoso por que, então, cantar alguma outra coisa? Por exemplo, o senhor falou sobre canções e diferentes mantras. Há algum fundamento em se cantar outra canção ou outro mantra?
Srila Prabhupada: Há outros mantras, mas, nesta era, recomenda-se especialmente o mantra Harê Krishna. Porém, outros mantras védicos também são cantados. Como lhe disse, é costume entre os sábios sentar-se com instrumentos musicais, como a tambura, e cantá-los. Por exemplo, Narada Muni* sempre canta mantras e toca seu instrumento de cordas, a vina. De modo que cantar bem alto ao acompanhamento de instrumentos de cordas não é algo novo. Desde tempos imemoriais que se faz isso. Mas, nesta era, recomenda-se especialmente que se cante o mantra Harê Krishna. Afirma-se isto em muitos textos védicos, tais como o Brahmanda Purana, o Kalisantarana Upanisad, o Agni Purana e assim por diante. E, afora as afirmações da literatura védica, o próprio Senhor Krishna, sob a forma do Senhor Caitanya, pregou que todos devem cantar o mantra Harê Krishna. E muitas pessoas o seguiam. Quando o cientista descobre algo, sua descoberta fica sob o domínio público. As pessoas podem tirar vantagem dela. De modo semelhante, se um mantra tem potência, todas as pessoas devem ter a oportunidade de tirar vantagem dele. Por que deveria permanecer secreto? Se um mantra é precioso, sua preciosidade deve-se estender a todos. Por que ele deveria se restringir a uma única pessoa específica?
John Lennon: Se todos os mantras são o nome de Deus, então, quer seja um mantra secreto ou um mantra revelado, tudo é nome de Deus. Então, não faz muita diferença se você canta esse ou aquele mantra, não é verdade?
Srila Prabhupada: Faz diferença! Por exemplo, nas drogarias vendem-se todas as classes de remédios para curar diferentes doenças. Mas, mesmo assim, a fim de conseguir um determinado tipo de remédio você tem que receber a receita médica. Senão, o farmacêutico não lhe dará o remédio. Quem sabe, você vai a

* Um sábio liberado que viaja através do universo, pregando o amor a Deus.

uma drogaria e diz: “Estou doente. Por favor, me dê qualquer um desses remédios aí.” Então, o farmacêutico perguntar-lhe-á “Onde está sua receita?”
Assim é que nesta era de Kali*, os sastras, ou escrituras, prescrevem o mantra Harê Krishna. E o grande preceptor Caitanya Mahaprabhu, a quem consideramos como sendo uma encarnação de Deus, também o prescreve. Por conseguinte, é nosso princípio que todos devem seguir a prescrição das grandes autoridades. Mahajano yena gatah sa panthah. Devemos seguir os passos das grandes autoridades. Este é o nosso dever. O Mahabharata afirma: “Os argumentos secos não são conclusivos. Uma grande personalidade cuja opinião não entra em choque com outras não é tido como um grande sábio. Pelo simples estudo dos Vedas, os quais são diversificados, não podemos chegar ao verdadeiro caminho através do qual se compreendem os princípios religiosos. A verdade insofismável dos princípios religiosos está oculta no coração da pessoa puramente auto-realizada. Em vista disso, conforme asseveram os sastras, devemos aceitar todo o caminho progressivo traçado pelos mahajanas.” [Mahabharata, Vana-parva, 313.117] Este mantra védico diz que, quem, através da simples argumentação tenta aproximar-se da Verdade Absoluta, depara com muita dificuldade. Mediante lógica e argumentos é muito difícil, pois nossa lógica e argumentos são limitados. E nossos sentidos são imperfeitos. Há muitas variedades confusas de escrituras, sendo que cada filósofo tem uma opinião diferente e, enquanto um filósofo não derrotar outro filósofo, não será reconhecido como grande. Uma teoria toma o lugar de outra, impedindo-nos destarte que, através da especulação filosófica, cheguemos à Verdade Absoluta. A Verdade Absoluta é muito confidencial. Então, como podemos obter essa coisa confidencial? Basta que você siga as grandes personalidades que já alcançaram o sucesso. Outrossim, nosso método filosófico consciente de Krishna consiste em seguir as grandes personalidades, tais como o Senhor Krishna, o Senhor Caitanya e os grandes mestres espirituais integrantes da sucessão discipular. Procure o refúgio das autoridades fidedignas e siga-as – como o recomendam os Vedas. Isto o levará até à meta final.

* A atual era, iniciada há cinco mil anos, caracterizada nas antigas escrituras védicas como a era das desavenças e da hipocrisia.

Evam parampara praptam: dessa maneira, através da sucessão discipular, o conhecimento é transmitido. Sa kaleneha mahata yogo nastah parantapa: mas, com o transcorrer do tempo, a sucessão discipular foi rompida. Por isso, diz Krishna, Eu o estou falando novamente para você. Portanto, é através da sucessão discipular que o mantra deve ser recebido. O preceito védico é sampradaya-vihina ye mantras te nispala matah. Se seu mantra não vem através da sucessão discipular, não será eficaz. Mantras te nisphalah. Nisphalah significa que não produzirá o efeito desejado. Portanto, deve-se receber o mantra através do canal adequado, ou ele não agirá. Não se pode inventar um mantra. Ele tem de vir do original Absoluto Supremo, sendo transmitido através do canal da sucessão discipular. É assim que ele deve ser recebido, e só então é que agirá.
Segundo nossa filosofia consciente de Krishna, o mantra é transmitido através de quatro canais de sucessão discipular: um, através do Senhor Siva; outro, através da deusa Laksmi; o terceiro, através do Senhor Brahma e, o último, através dos quatro Kumaras. A mesma coisa é transmitida através de diferentes canais, chamados de sampradayas, ou sucessão discipulares. Então, devemos receber nosso mantra em uma dessas quatro sampradayas; só então este mantra será ativo. Se recebermos o mantra dessa maneira, ele será eficaz. E se o mantra não é recebido através de um desses canais (sampradayas), ele não agirá, sendo assim incapaz de produzir algum fruto.
Yoko Ono: Se o mantra tem, em si mesmo, tanto poder, tem alguma importância saber onde você o recebe, como ele chega até você?
Srila Prabhupada: Sim, tem importância. Por exemplo, o leite é nutritivo. Isto é um fato; todo mundo sabe. Mas, ao ser tocado pelos lábios de uma serpente, ele deixa de ser nutritivo. Ele se torna venenoso.
Yoko Ono: Bom, o leite é material.
Srila Prabhupada: Sim, é material; mas, como você está tentando entender tópicos espirituais através de seus sentidos materiais, damos exemplos materiais.
Yoko Ono: Bom, não; não creio que o senhor tenha de me dar o sentido material. Quer dizer, o mantra não é material. Por certo que é algo espiritual; portanto, acho que ninguém é capaz de estragá-lo. Duvido que alguém possa realmente estragar algo que não é material.
Srila Prabhupada: Mas, se você não receber o mantra através do canal adequado, talvez ele não seja realmente espiritual.
John Lennon: Qual o jeito de saber? Como pode o senhor fazer a diferença? Quer dizer, como é que qualquer um de seus discípulos ou nós ou qualquer outra pessoa que vá até a algum mestre espiritual, como podemos saber se ele é genuíno ou não?
Srila Prabhupada: Não é que você deve simplesmente ir até a algum mestre espiritual.
John Lennon: Sim, devemos buscar um mestre verdadeiro. Mas como podemos fazer a diferença entre um e outro?
Srila Prabhupada: Você não deve ir em busca de algum mestre espiritual. Tal mestre deve pertencer a uma sampradaya reconhecida, uma linha específica de sucessão discipular.
John Lennon: Então, que fazer se um desses mestres que não pertence à linha diz as mesmíssimas coisas que um que pertença? Como fica, se ele diz que seu mantra vem dos vedas e aparentemente fala com a mesma autoridade que o senhor? Talvez ele estivesse certo. É muito confuso. É como tivéssemos muitas frutas num prato.
Srila Prabhupada: Se o mantra vem realmente através da sucessão discipular fidedigna, então terá potência.
John Lennon: O mantra Harê Krishna é o melhor?
Srila Prabhupada: Sim.
Yoko Ono: Bom, se Harê Krishna é o melhor, porque nos deveríamos preocupar em dizer alguma coisa além de Harê Krishna?
Srila Prabhupada: É verdade, você não deve se preocupar com nada mais. Afirmamos que basta o mantra Harê Krishna para que todos se aperfeiçoem e se libertem.
George Harrison: Não seria como as flores? Talvez alguém prefira rosas, e outro alguém goste mais de cravos. Será que não caberia a cada devoto tomar a sua decisão? Talvez uma pessoa ache que Harê Krishna é mais benéfico para o seu avanço espiritual; entretanto, outra pessoa talvez ache que algum outro mantra lhe seja mais benéfico. Não seria uma simples questão de gosto, assim como escolher uma flor? Todas elas são flores, mas algumas pessoas podem gostar mais de uma do que de outra.
Srila Prabhupada: Mas, mesmo assim, existe diferença. Uma rosa perfumada é considerada melhor do que uma flor inodora.
Yoko Ono: Nesse caso, eu não...
Srila Prabhupada: Tentemos compreender esse exemplo da flor.
Yoko Ono: Tudo bem.
Srila Prabhupada: Você pode se atrair por uma flor, e eu, por outra. Mas, entre as flores, pode-se fazer uma distinção. Há muitas flores que não têm fragrância e muitas que a têm.
Yoko Ono: A flor que tem fragrância é melhor?
Srila Prabhupada: Sim. Portanto, o fato de você se sentir atraída por uma flor em particular não resolve a questão de quem é na verdade melhor. Da mesma forma, não é à atração pessoal que resolve o problema de se escolher o melhor processo espiritual. No Bhagavad-gita [4.11] o Senhor Krishna diz: “A todos Eu recompenso de acordo com a intensidade com que se rendem a Mim. Sob todos os aspectos, todos seguem o caminho que Eu tracei, ó filho de Prtha.” Krishna é o Absoluto Supremo. Se alguém deseja desfrutar de uma relação específica com Ele, Krishna recíproca essa relação. Assim como o exemplo da flor. Talvez você queira uma flor amarela, e, quem sabe, essa flor não tenha perfume. A flor está lá; é para você; pronto! Mas, se alguém deseja uma rosa, Krishna lhe dá uma rosa. Cada um de vocês pega a flor que escolheu, mas, quando vocês fazem um estudo comparativo para saber qual delas é a melhor, a rosa será considerada melhor.
Yoko Ono: Vejo que o que o senhor disse é algo mais ou menos padronizado. Por exemplo, o senhor disse que Harê Krishna é a palavra mais superpoderosa. Sendo isso verdade, porque deveríamos nos preocupar em pronunciar outras palavras? Quero dizer, qual a necessidade? E por que o senhor nos anima, alegando que somos compositores e tudo o mais, a escrever alguma canção que não Harê Krishna?
Srila Prabhupada: Cantar o mantra Harê Krishna é o processo recomendado para limpar nossos corações. Desse modo, quem na verdade cantar Harê Krishna regularmente não precisa fazer nada mais. Ele já está na disposição correta e não precisa nem mesmo ler quaisquer livros.
Yoko Ono: Tudo bem, eu concordo. Mas, por que o senhor diz que está tudo bem em escrever canções, falar e tudo isso? Não seria uma perda de tempo?
Srila Prabhupada: Não, não é uma perda de tempo. Por exemplo, Sri Caitanya Mahaprabhu passava a maior parte de Seu tempo simplesmente cantando. Ele era um sannyasi, um membro da ordem espiritual da vida renunciada. Portanto, muitos sannyasis importantes criticaram-nO, dizendo: “És agora um sannyasi e mesmo assim não lês o Vedanta-sutra. Tudo o que fazes é cantar e dançar.” Dessa forma, eles criticaram o fato de Ele constantemente cantar Harê Krishna. Mas, ao deparar tais eruditos intransigentes, Caitanya Mahaprabhu não ficou calado. Mediante argumentos sólidos baseados nas escrituras védicas, Ele estabeleceu o cantar de Harê Krishna.
Cantar Harê Krishna é o suficiente para a libertação; quanto a isso não há dúvidas. Mas, para quem deseja compreender o mantra Harê Krishna mediante filosofia, mediante estudos ou através do Vedanta, não faltam informações. Temos muitos livros, mas isso não quer dizer que há alguma falha no mantra Harê Krishna e, por isso, recomendamos os livros. O mantra Harê Krishna é suficiente. Mas, enquanto cantava, Caitanya Mahaprabhu algumas vezes teve de fazer frente a alguns eruditos, tais como Prakasananda Sarasvati e Sarvabhauma Bhattacarya. E então, tendo por base o Vedanta, Ele estava preparado para discutir com eles. Assim, não devemos ser mudos. Se alguém vier discutir a filosofia Vedanta, então deveremos estar preparados. Enquanto pregamos, diversas classes de pessoas aparecem com diferentes perguntas. Compete-nos saber respondê-las. No mais, o mantra Harê Krishna é suficiente. Não é preciso nenhuma educação, nenhuma leitura ou qualquer outra coisa. Pelo simples fato de cantar Harê Krishna você atinge a mais elevada perfeição. É a pura verdade.

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